
Quando, há uns tempos, se começou a ouvir todo aquele zumzum sobre a série “Por Treze Razões” (do título original “Thirteen Reasons Why”), decidi seguir o rebanho e assisti à primeira temporada de uma assentada.
Hoje, que terminei a terceira e última temporada da série, decidi partilhar todas as aprendizagens que me transmitiu e os motivos pelos quais considero que é uma série obrigatória para meio mundo.
Hannah Baker, uma estudante de 17 anos do liceu Liberty High, suicida-se. Para trás deixou treze cassetes áudio, gravadas por ela, onde explica os treze motivos pelos quais se suicidou. Cada cassete é refente a uma pessoa que marcou a sua vida (pela negativa) e que levou a que tirasse a própria vida, num ato de desespero de quem já não aguenta mais.
Quando as cassetes chegam a Clay Jensen, apaixonado por Hannah, começa a vingança por Hannah. Mas é nesta saga de vingança de Clay que vamos conhecendo todos os personagens. Alguns deles, consideramos que são adolescentes repugnantes. Temos de tudo um pouco, incluindo os clássicos atletas machistas que agridem todos os que consideram abaixo de si, aos mais caladinhos. Todos os que contribuíram, de alguma forma, para o suicídio de Hannah acabam por ter, também eles, muitos segredos.
No fundo, retrata aquilo pelo qual muitos jovens passam no dia-a-dia dos liceus. Abusos, agressões, desprezo, maus-tratos, indiferença. E mostra, acima de tudo, qual o impacto que “pequenas atitudes” podem ter na vida dos que nos rodeiam e marcá-los para sempre. Cada acção tem uma consequência, quer nos apercebamos quer não.
Ao longo das três temporadas, que nos levam a mais um homicídio e a quem o cometeu na verdade, vamos aprendendo muitas coisas. Para mim, que tenho miúdas na família a crescer e a entrar no quinto ano, foi um abre-olhos para um conjunto de situações e para a importância de estar atenta aos pequenos sinais.
Mas aqui ficam as principais lições que aprendi com “Por Treze Razões”
1 – Todas as atitudes têm consequências
Quando somos cruéis com alguém. Quando somos generosos com alguém. Quando simplesmente manifestamos indiferença. Todas as nossas atitudes têm consequências nos outros. Podem ser boas, podem ser más. É muito mais fácil agirmos sem pensar no impacto que teremos no outro. No quanto o iremos magoar, ou motivar. Uma palavra amiga tem o poder de dar coragem, de apoiar, de motivar, de dar energia. Uma palavra ou atitude negativa pode afundar a outra pessoa numa espiral de negatividade sem retorno. Percebemos isso através da história de Hannah Baker e de outros colegas que quase tiram a própria vida quando se sentem insignificantes e enterrados na sua dor. Mas também vimos o quanto a amizade e o carinho entre eles conseguiu evitar que mais mortes acontecessem.
2 – As pessoas podem mudar
Bryce Walker, que na altura também estudava em Liberty High, violou Hannah Baker e outras raparigas do liceu. Era o típico atleta que achava que tinha de ter tudo aquilo que queria. Depois de as cassetes de Hannah terem sido divulgadas publicamente e de Bryce ter saído em liberdade mesmo tendo cometido tantas violações, odiamo-lo ainda mais. Senti realmente raiva dele, daquela personagem cruel e machista que pensa que pode usar e abusar das mulheres. Contudo, na terceira temporada, percebemos que Bryce quer mudar. E que, à maneira dele, tenta combater os seus demónios e colmatar todos os erros que cometeu com as várias pessoas à sua volta. Foi assassinado antes de conseguir provar que estava diferente mas, ao longo da temporada, vemos o seu real esforço e que, afinal, no fundo até não era mau tipo. Estranho, vindo de alguém que realmente violou várias raparigas. Mas a verdade é que fez um esforço para ser diferente, para ser melhor. E ás vezes, com a motivação e o apoio certo, as pessoas podem mudar. E devem, porque nunca é tarde para se ser melhor.
3 – Nunca sabemos o historial das pessoas
É fácil julgar um livro pela sua capa ou pensar “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. No liceu é a mesma coisa. Se pertenceres ao grupo dos atletas, és um porco machista playboy e burro. Se pertenceres a algum clube de xadrez, és um nerd. Se vestires saias ou te maquilhares, és uma oferecida. Simples. Mas, por detrás de todos os sorrisos, de todas as piadas e de todo o dia-a-dia escolar, todos eles tinham um background. Um deles é toxicodependente por ter uma mãe adicta e por ter tido de viver na rua durante alguns meses. Outros são espancados em casa. Outros negligenciados. Enfim, nunca sabemos o historial das pessoas nem o que está por detrás de algumas das suas atitudes. Também é certo que o nosso background não deve ditar as nossas atitudes para com os outros, especialmente se forem negativas, mas por vezes há situações que não mostramos aos outros e que se reflectem na pessoa que somos e na forma como agimos.
Esta série marcou-me muito. Preocupa-me sentir que é este o ambiente em que os meus filhos irão viver, porque eu passei ao lado destas situações. Mas dá-me esperança a amizade, a entreajuda e o carinho que se pode formar quando ainda somos adolescentes. São laços que nos marcam para a vida e, no meu caso, tenho alguns desses laços que guardo até hoje.
Se ainda não viram a série “Por Treze Razões”, da Netflix, recomendo vivamente a toda a gente, especialmente quem lida com crianças. Que outras lições retiraram da série, a quem já a viu?